Um dos frágeis argumentos espíritas é basicamente o que segue: “Os cristãos acreditavam na reencarnação, até meados do século VI, quando o Segundo Concílio de Constantinopla condenou a doutrina. Ora, não condenaria algo que não fosse crido.”
Essa teoria frívola não tem como base os testemunhos antigos. Cita-se apenas, um concílio, sem, porém, citar qualquer trecho do mesmo para apoiar tal visão.
A verdade, é que o II Concílio de Constantinopla não condenou a reencarnação espírita e sim a pré-existência da alma. A segunda não implica à crença espírita. O que o concílio condenou foram às apropriações de Orígenes sobre o pensar platônico. Porém, Orígenes só cria na pré-existência da alma e única encarnação e não em várias. Negou em várias ocasiões a reencarnação.
Sobre o gnóstico Basíledes que fez uso de Romanos 7, 9 para apoiar a reencarnação Orígenes escreve: "Basílides rebaixou a doutrina do Apóstolo ao plano das fábulas ineptas e ímpias" (cf. In Rom VIII).
Em seu comentário sobre o Evangelho de Mateus escreve em relação a Elias e João Batista:
“Neste lugar (referência a Mateus 17,10-13) não parece para mim que, por Elias, refere-se à alma, para que não caia na doutrina da transmigração, que é estranha à igreja de Deus e não ensinada pelos Apóstolos, nem em qualquer lugar é estabelecido nas Escrituras” (Livro 13, 1)
Deixa bem claro sua posição e negação à reencarnação:
“Se tivesse refletido sobre o que é apropriado para uma alma que está destinada à vida eterna, e na opinião que estamos na natureza de sua essência e de seu princípio, ele não teria assim ridicularizado a entrada do imortal em um corpo mortal, que se efetua, não de acordo a metempsicose de Platão, mas segundo uma visão mais agradável e maior das coisas.” (Contra Celso, Livro 4, cap 7)
Agora, reparem o que realmente dizia o Edito do imperador Justiniano lido no Concílio de Constantinopla e publicado no sínodo:
“Se alguém diz ou sustenta que as almas humanas preexistem, no sentido de serem, anteriormente, mentes e forças santas que se desgastaram da visão divina e que se voltaram para o pior e por isto se esfriaram no amor a Deus, tomando daí o nome de almas, e que por punição foram mandadas para os corpos embaixo, seja anátema” (Dezinger – Anatematizos contra Orígenes)
Qualquer espírita honesto não dirá que tal condenação se referira à reencarnação, muito menos a ela nos moldes da doutrina espírita.
Não só Orígenes negou a reencarnação, outros Pais da Igreja fizeram o mesmo. Vejamos:
São Justino Mártir (100 - 165):
“(Todos os que crêem em Deus)... conduzimo-los... (ao batismo)... e, segundo o modo da regeneração que a nós renegou, também são regenerados...Não é questão, para os que nasceram uma vez por todas, de voltar (novamente) ao seio da mãe...” (Apologie, tradução de A. Wartelle, Études augustiniennes, Paris, 1987 p. 183)
"Então almas nem vêem Deus nem transmigram para outros corpos; pois eles devem saber que então eles são punidos, e eles teriam medo de cometer até mesmo o mais trivial pecado depois disto. Mas que elas podem perceber que Deus existe e que justiça e piedade são honoráveis, eu também concordo com você", disse ele.
"Você está certo," respondi” (Diálogo com Trifo, IV.)
Santo Irineu de Lião (130 - 202):
“...Assim como cada um de nós recebe seu corpo por arte de Deus, assim também possui sua própria alma...” (Contra Heresias Livro 2,33)
São Clemente de Alexandria (150 - 215):
“Se tivéssemos existido antes de vir a este mundo, deveríamos agora saber onde estávamos, assim como o modo e o motivo pelos quais viemos a este mundo” (Eclogae XVII)
Tertuliano (160 – 220):
“...Se os mortos, segundo uma lei intocável, voltassem à vida, o número dos seres humanos seria sempre o mesmo. Ora, não é o caso, haja vista o número sempre crescente da população humana, apesar das fomes e das guerras..” (De anima)
“A identidade do corpo glorioso de Cristo ressuscitado com seu corpo terrestre é a mais forte prova contra a metempsicose.” (Sobre a ressurreição da carne. Citado no Livro Notas sobre a reencarnação)
“Quão mais digno de aceitação é o nosso ensino de que as almas irão retornar aos mesmos corpos. E quão mais ridículo é o ensino herdado [pagão] de que o espírito humano deve reaparecer em um cão, cavalo ou pavão!” (Ad Nationes, Cap. 19).
Lactâncio (250 - 317):
“... Não é necessário que as almas velhas se revistam de corpos novos, quando o mesmo artífice (isto é, Deus) que fez as primeiras sempre pode fazer outras (novas)” (Notas sobre a reencarnação, pág. 80)
São Basílio Magno (329-379):
“... Não direi que eles foram animais outrora, mas defendo firmemente que, propagando tais ensinamentos, ficam sem espírito, menos ainda (que esses mesmos animais” (Citado por L Bukowski)
Santo Agostinho (354-430):
“... (Platão afirmava) que, depois da morte, as almas humanas voltam em corpos (de animais)... O mestre de Porfírio, Plotino, defendia a mesma posição... Porfídio não aceitou a transmigração das almas com os animais, mas só entre os homens. Evidentemente teve vergonha de adotar essa opinião, não admitindo que uma mão possa transformar-se numa mula, e servir de montaria ao filho, mas não teve vergonha (de admitir) que uma mãe passe a ser jovem e venha a desposar o próprio filho...” (A cidade de Deus, Livro 10, cap 30)
São Jerônimo (347 - 420):
“... João Batista é apelidado de Elias, não por ser a reencarnação do profeta, mas porque Deus lhe tinha dado a graça e a força num mesmo grau que a Elias; também porque a austeridade de suas vidas foi parecida; enfim, por causa das semelhanças de suas vocações...” (Comentários sobre Mateus, Livro 2, 11)
Referências e fontes:
1.http://www.documentacatholicaomnia.eu/04z/z_0185-0254__Origenes__Commentarium_in_evangelium_Matthaei_[Schaff]__EN.pdf.html
2. http://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/0185-0254,_Origenes,_Contra_Celsus,_EN.pdf
3. http://www.documentacatholicaomnia.eu/04z/z_0160-0220__Tertullianus__De_Anima__EN.doc.html
4. http://www.reflexoes.diarias.nom.br/CRISTAS/OSPRIMEIROSCRISTAOSEAREENCARNACAO.pdf
5. Livro: Notas sobre a reencarnação. Benoit Domergue.
6. Livro: Reencarnação. Geraldo E. Dallegrave.
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