Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens, innixa super Dilectum suum? Quem é esta que sobe do deserto cheia de delícias e apoiada em seu Amado?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Zelus Domus Tuae Comedit Me

Zelus Domus Tuae Comedit Me
(O ZELO POR TUA CASA ME CONSOME, SL 69,10)

“Em cada dia, em qualquer lugar onde a Cruz seja plantada, uma missa inumerável, a todos os instantes do dia, é celebrada por todas as partes da Terra”, assim escreve sua Santidade Pio XII em sua Encíclica Mediator Dei. A liturgia da Santa Missa é celebrada diariamente em centenas de milhares de altares, e para o qual acorre a cada domingo todo o povo cristão, mas nós, que participamos desse ato principal do culto que queremos prestar a Deus, nós que vamos ser colocados face a face com a realidade manifesta da nossa fé, fiéis à missa, que somos com relação a ela? O que é que ela é em relação a nós? Somos colocados em face dos mistérios mais profundos que existem no mundo, frente aos arcanos do sangue que redime, do inocente pagando pelo culpado, da fraqueza que é força e da vida que vence a morte.
Frente a esses questionamentos a Missa é, essencialmente, o memorial de um drama, um drama sem cessar recomeçado, sem cessar presente a nós, uma tragédia eternamente prolongada. A palavra, com que desde o século VI se designa, esta palavra Missa, tirada da fórmula que outrora a terminava – o Ite Missa est (Ide, a missa terminou) – pode parece muito pequena para designar um tão profundo mistério, e os termos, outrora em uso, poderiam parecer mais convenientes: ação de graças, liturgia, fração do pão, ou ainda, como escreveram Tertuliano, São Justino, São Cipriano, “a Paixão do Senhor.”
Porque aí está a verdade: é a paixão de Cristo que está no centro da missa, invocada, anunciada, celebrada, consumada. Foi à volta deste dado fundamental da fé cristã, a Redenção pelo sacrifício da Cruz, que ela se organizou. É em relação a ela que é preciso compreendê-la. Diferente de alguns pensamentos que permeiam entre muitos católicos nos dias hodiernos, a Missa não é uma festa onde reina a “folia”, danças, muito barulho e pouco recolhimento; não é também um teatro onde encenamos outros teatros tentando mostrar bem insignificantemente aquilo que por si só a Missa mostra sem ser uma encenação, pois ela é o memorial que reproduz os gestos e palavras de Cristo na Ceia e o seu sacrifício no Calvário.
O Sacrifício que se oferece sobre o Altar é o mesmo que se ofereceu no Calvário, porque a vítima e o sacerdote são os mesmos. Jesus Cristo, embora invisível, é o Sacerdote principal da Missa. É por virtude d’Ele que o sacerdote visível consagra, e é apoiado na mediação d’Ele oculto debaixo das espécies, que o celebrante se dirige ao Pai. É Jesus Cristo quem na consagração pronuncia as palavras pela boca do seu ministro, o sacerdote: Isto é o meu Corpo. Este é o meu Sangue. E os seus sentimentos sãos os mesmos que Ele teve na Cruz. Eis porque podemos chamar à Santa Missa, a renovação do Sacrifício da Cruz, tento como única diferença que este foi feito de forma cruenta (com derramamento de sangue) e aquele de forma incruenta (sem o derramamento de sangue).
Tal deve ser o sentido da Missa para os cristãos que devemos nos associar a Cristo, pois do mesmo modo que no Calvário houve o Sacrifício de Cristo, também na Missa coloco minha vida em oferta. É por mim que cada uma das Missas se celebra: “derramarei por ti tal gota de sangue...”. Mas nada disso tem sentido a não ser que os filhos de Deus a Ele se associem e subam para a luz, porque toda a alma que se eleva, eleva o mundo. Só a Igreja inteira, prolongada até as suas origens como o será pelos séculos dos séculos, é digna e capaz de assumir esse sacrifício e de oferecer Àquele que é Único. A missa é o nosso sacrifício, é o sacrifício de todos. E é como um membro, o mais obscuro, o mais indigno desta humanidade sobre que Cristo chorou, mas que redimiu com o seu Sangue, unido a todos na fé e na esperança, que participamos da Missa, curvados pelo amor e com a alma cheia de expectativa do Perdão.
A participação ativa nos mistérios sagrados e na oração pública e solene da Igreja, diz São Pio X, que é fonte primária e indispensável do verdadeiro espírito cristão. Para formar o povo e lhe dar maior compreensão das verdades divinas, de que vive, com freqüência esquecido, para elevar ao suave prazer das alegrias espirituais e interiores. Qual seria a razão por que o Salvador quis continuar o seu Sacrifício no Calvário na Santa Missa? Outra não é senão esta: para que todos pudéssemos participar neste mesmo Sacrifício. No Cristo e com o Cristo devemos sacrificar-nos. Apresentarmo-nos ao pé do Altar, não é somente para rezar ou meditar a Paixão do Salvador ou algum outro Mistério da sua vida, e sim para nos unirmos à Vítima divina, e sendo possível, tomarmos parte no Banquete sacrifical. Assim toda a Comunidade religiosa se une em um só Sacrifício e participa num só Banquete. Esta União santa fará o nosso Sacrifício agradável a Deus; aumentará a sua glória e nos comunicará a abundância de sua benção.
O Santo Sacrifício da Missa, em sua essência e em sua manifestação exterior, não é uma Doutrina, nem é apenas uma oração. É, sim, uma verdadeira Ação. “Fazei isto em memória de mim.” Com esta recomendação, confiou o Senhor a seus Apóstolos a realização da ação que Ele mesmo havia feio na Última Ceia. E a Santa Igreja, herdeira legítima do testamento do Senhor, continua agir do mesmo modo através dos séculos, realizando-se assim a ação por excelência da humanidade: a Ação Sagrada.
Contudo, com grande zelo e guiada pelo Espírito de Deus, cuidou a Igreja em que os Santos Mistérios fossem tratados com o máximo respeito. Nosso Senhor Jesus Cristo na ultima Ceia, consagrando o pão e o vinho, transubstanciando-os em seu Corpo e Sangue e dando-os a seus discípulos, constituiu Apóstolos executores do testamento do Altíssimo. E o que é essencial ainda hoje, ordenou aos sucessores dos mesmos continuassem a “fazer aquela ação” com respeitosa alegria. Unidos, assim o fizeram, relembrando a ultima Ceia, cantando hinos e cânticos e enviando as suas preces ao Céu e nós como fiéis participantes deste mesmo Sacrifício devemos do mesmo modo associarmo-nos respeitosamente a ele, adorando o Cordeiro divino imolado em nossos Altares: Corpo, Sangue, Alma e divindade de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que vive e reina pelos séculos dos séculos.

“Se soubéssemos o que é a Santa Missa, morreríamos de amor”. São João Maria Vianney


Sem. Thiago Paleologo
Diocese de São Carlos Borromeu

1 comentários:

Marcelo disse...

S. João Maria Vianney tinha toda razão, pois não possuímos noção da magnitude da Missa, que é a renovação do Sacrifício do Calvário, grandioso mistério da Fé, e se soubéssemos, nos consumiríamos de amor.

E ainda assim, embasados na nossa pequena amplitude de compreensão, que não nos permite compreender a essência do que é mistério, sentimos revolta e tristeza quando vemos os absurdos que são realizados durante as Missas atualmente. Abusos litúrgicos, que são como que cuspidas no Cristo sofredor, e que são dignos de nossos maiores esforços em combatê-los.

Ao mesmo tempo, em meio à isto, podemos nos alegrar em ver que ainda existem pessoas que amam a Santa Missa, e que se empenham em dar à conhecer aos outros todo o amor e dedicação dos quais é digno tão explêndido mistério, apesar de munidas da pequena compreensão humana.


In corde Iesu,
Marcelo Maciel.

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