Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens, innixa super Dilectum suum? Quem é esta que sobe do deserto cheia de delícias e apoiada em seu Amado?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Pedro a pedrinha?

Os protestantes de modo doloso interpretam a passagem de Matheus 16,18.
Ela diz: "E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela."
Para negarem que Jesus Cristo edificou a Igreja sobre a Rocha que é Pedro partem para uma versão nada veraz. Abaixo vejam a interpretação que dão sobre a passagem. Eles dizem:

"Jesus chama Simão de pedrinha, pedregulho. A palavra grega usada para a pessoa de Simão é "petros" que significa pedra pequena, enquanto a pedra que se estaria edificando a Igreja é do grego "petra" significando rocha, essa última é o próprio que declara, Jesus."

O argumento exposto acima é falho, pois, o Novo Testamento foi escrito em grego koiné, onde tanto petros quanto petra tem mesmo significado (usuais para “pequena pedra” e “grande rocha”). A diferenciação entre as duas palavras só há no grego ático. Portanto, as duas palavras eram sinônimas no grego do primeiro século.
É importante lembrar que Jesus falava aramaico, onde utilizou Kepha. É conservado o semitismo em várias passagens sobre o nome de Pedro: Jo 1,42; 1Cor 1,12; 3,22; 9,5; 15,5; Gl 1,18; 2,9; 2,11; 2,14. Todas elas utilizam "Cefas" que é uma transliteração do aramaico Kepha. A palavra Cefas quer dizer unicamente "grande pedra e maciça". A palavra aramaica para pedregulho ou pequena pedra é "evna" e se fosse esta última utilizada por Cristo, os escritores inspirados teriam errado em nomear Pedro como "Cefas", o que não é correto pensar. Matheus utiliza uma e depois outra palavra grega para pedra seguindo a estrutura da linguagem. Não poderia chamar um homem de petra, pois seria um nome feminino, por isso, usou o substantivo masculino, petros. No primeiro uso se referiu como nome próprio a Pedro, então "petros" (um homem) no segundo se fala de um substantivo feminino, de modo que se poderia usar petra. Em outras palavras: "Petros" é a "petra" (Pedro é a Rocha).

O teólogo Robert A. Sungenis (ex-protestante convertido ao catolicismo) escreveu:
"Existem nuances no grego que são mais ilustrativas em identificar Pedro como a pedra que não existem no hebraico/aramaico. Por exemplo, o grego para "sobre esta pedra" usa a forma "tautee" - adjetivo demonstrativo de desinência dativa - coim o adjetivo dativo "tee". Para demonstrar a força de sua qualidade demonstrativa, a palavra grega pode ser traduzida por "esta mesma" ou "justamente esta" "igualmente esta". Assim, as palavras de (Mt 16, 18) podem ser lidas como "... Tu és Pedro e sobre esta mesma pedra edificarei minha Igreja..." ou "...Tu és Pedro  e exatamente sobre esta pedra edificarei minha Igreja..."
"Devemos acrescentar que a Vulgata Latina, escrita por São Jerônimo no quinto século, traduz a frase supramencionada como "hanc petram" no qual "hanc" pode ser traduzida como "esta mesma" em latim. Sob a ótica de Jerônimo, isto deveria ser bastante significativo, pois ele era um "expert" em grego, aramaico e hebraico."

Tradição:

Tatiano, o Sírio (120-180):
"Simão Cephas respondeu e disse, 'tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo. Jesus respondeu dizendo-lhe: 'Bendito és, Simão, filho de Jonas: não foram a carne nem o sangue quem te revelaram, mas o meu Pai que está no céu, E eu também te digo que és Cephas, e sobre esta rocha eu construirei a Minha Igreja; e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela". (Diatsseron 23, 170 d. C)

Tertuliano (155-222):
"Teria algo sido retido ao conhecimento de Pedro, a quem se chamou 'a rocha sobre a qual a Igreja seria construída', com o poder de 'desligar e ligar no céu e na terra'?" (Demurrer Against the Heretics 22, 200 d. C).

São Cipriano de Cartago (+258) diz:
"Cristo edifica a Igreja sobre Pedro. Encarrega-o de apascentar-lhe as ovelhas. A Pedro é entregue o primado para que seja uma Igreja e uma cátedra de Cristo. Quem abandona a cátedra de Pedro, sobre a qual foi fundada a Igreja, não pode pensar em pertencer à Igreja de Cristo" (De un. Eccl. cap. IV).

Diante de todos os fundamentos acima está destruída mais uma pseudo interpretação protestante.

Nelson Monteiro.

6 comentários:

Paulino Filho disse...

Vc do esqueceu de colocar o pensamento de santo Agostinho:
Eis as palavras que aparecem no fim do Evangelho de S. Mateus, tradução da Bíblia do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, edição de 1857, de Lisboa, pág. 95: 
"Santo Agostinho no tratado CXXIV sobre S. João entende por esta pedra não a Pedro, mas a Cristo, em quanto confessado Deus por Pedro, como se Cristo dissera: Tu és Pedro, denominado assim da pedra, que confessaste, que sou eu, sobre a qual edificarei a minha igreja". 
Estas palavras do maior teólogo católica romano por serem muito claras dispensam comentários. 

Nelson Monteiro disse...

Só cita os Pais da Igreja, quando lhe convém não é mesmo? Assim é muito fácil...
Não passaste as palavras do Santo Doutor católico, passaste, apenas, as palavras que estão contidas na Bíblia do Padre Antônio Pereira, edição de 1857.
A verdade é que Santo Agostinho anunciou em momento uma e depois outra interpretação. Ele escreve depois de expor as duas interpretações: “Que o leitor escolha das duas interpretações aquela que lhe pareça a mais provável” Ora, ele não deu juízo final sobre nenhuma, ele estava em dúvida, por isso, que disse para o leitor tirar sua própria conclusão. Poderá encontrar a frase no mesmo sermão usado pelos protestantes indevidamente, Sermão 295.

Para saber mais leia o grande artigo do nosso autor Jefferson Nóbrega:
http://caiafarsa.wordpress.com/santo-agostinho-negou-o-primado-de-pedro/

Marcelo disse...

Sermões 295,2: Entre estes somente Pedro mereceu representar toda a Igreja. Por causa desta representação da Igreja, que somente ele conduziu, mereceu escutar "Eu te darei as chaves do reino dos Céus"

Carta 53, 2: Desta forma, se a linha sucessória dos apóstolos deve ser levada em consideração, com que maior certeza e benefício à Igreja devemos retornar até alcançar o próprio Pedro, a quem, como uma figura que comporta toda a Igreja, o Senhor disse "Sobre esta pedra edificarei e minha Igreja, e os portões do inferno não prevalecerão contra ela".

Santo Agostinho defendia o Primado de Pedro, esta 'segunda interpretação' é balela protestante.

luiz disse...

Prezados senhores

Bom dia

Poderia me tira duas dúvidas?

Na 1ª Epístola de Pedro,os católicos entendem que a Babilõnia citada se refere a Roma pois em Apocalipse a Babilônia significa Roma.Porém o livro de Apocalipse é uma linguagem simbólica e a 1ª Epístola de Pedro é uma linguagem literal portando diferente.Na 1ª Epistola de Pedro tudo indica que a cidade é Babilônia e não Roma.

Podemos ver também em Romanos1:7, Romanos 1:15 e 2ª Epistola de Timoteo 1:17 que a palavra usada é Roma e em Hebreus 13:14 a palavra usada é Itália.Em ambos os casos nao se usou a palavra Babilônia.

Um abraço e felicidades

Luiz

Nelson Monteiro disse...

Prezado Luiz, pelo que pude entender da sua pergunta você está em dúvida só sobre esse pormenor, se a Babilônia é mesmo Roma ou não. Não indagas se São Pedro esteve em Roma ou não. Então logo de início digo: ainda que seja verdadeira a hipótese de Roma e Babilônia não se referirem a mesma não reduzirá as fontes históricas sobre a estadia e morte de São Pedro em Roma, tampouco acabará com a descoberta arqueológica no ano de 1950, onde se encontrou embaixo da Basílica de São Pedro a sepultura do próprio, lendo-se: “Pedro está aqui” e outras inscrições datadas do século I e II do tipo: “Pedro, sede medianeiro em nossas misérias”, “São Pedro rogai por nós”, etc. Agora, vamos nos deter para a questão de Babilônia e Roma.

Evidência bíblia

São Paulo diz que Marcos estava com ele em Roma:
“Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, primo de Barnabé, a respeito do qual já recebestes instruções.” (Colossenses 4, 10)

São Pedro na carta referida por ti também diz que Marcos estava com ele só que na Babilônia:

“A igreja escolhida de Babilônia saúda-vos, assim como também Marcos, meu filho” (I São Pedro 5,13)

A diferença entre uma e outra não pode passar dos cinco anos, sendo assim, só por isso é bem provável que Marcos estava em Roma e que esta é também chamada de Babilônia. É claro que logicamente não repugna a possibilidade de Marcos ter ido a essa suposta cidade chamada Babilônia posteriormente, mas tal suposição não tem embasamento e por isso mesmo é menos provável. Quanto ao Apocalipse ser figurado e a Epístola de São Pedro não propriamente, não prova nada. São João escrevia com símbolos, mas tinha em vista o entendimento dos cristãos da época quanto a isso, entenderiam Babilônia como Roma, como São Pedro fez. É claro que as palavras servem como símbolos, e isto vale também para Roma, as duas serviriam para designar a mesma ideia, não há problema em relação ao gênero com isso. Equivale dizer que o “fogo” falado por São Pedro na mesma epístola no cap. 1 e verso 7 é literal, só porque o gênero não é alegórico. Ou que em Apocalipse as igrejas (Apoc. 2) não se referem de fato às comunidades católicas porque o Apocalipse tem muita coisa que não é literal. Uma coisa não obriga a outra, entende? E ainda se fosse outra cidade seria ainda um símbolo da antiga Babilônia que já não existia. Então, não se conclui pela análise dos gêneros textuais que Babilônia e Roma são cidades diferentes. O outro ponto, das passagens onde Roma não é chamada de Babilônia também não demonstra nada, pois o argumento é que a cidade era reconhecida pelos dois nomes. Santo Agostinho (354 – 430) no livro 16 e 18 de sua obra A Cidade de Deus chama Roma de nova Babilônia, outra Babilônia, etc. São Jerônimo (347 - 420) na obra De viris Illustribus no cap. 8 diz explicitamente que a Babilônia referida é Roma. O historiador Eusébio de Cesaréia (265 – 339) faz o mesmo no cap. 15 do primeiro livro de sua obra História Eclesiástica. É óbvio que a interpretação dos Pais da Igreja é argumento muito mais forte do que os “achismos” protestantes.

Em Cristo,

Nelson Monteiro.

Luiz disse...

Prezado Nelson

Bom dia

Muito obrigado pela resposta.

Um abraço

Luiz

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