Os evangélicos pentecostais e os "católicos" carismáticos têm apresentado, uma forma nova de falar em línguas. O que antes era pronunciar palavras, quais não se tinha conhecimento, virou balbuciar palavras ininteligíveis. Dizem eles que esse "dom" edifica pessoalmente e nele o Espírito Santo ora ao lugar da pessoa, por ela muitas vezes não saber o que necessita.
Seria mesmo este "blábláblá" um dom carismático? Faria sentido o Espírito Santo, anjos, ou sei lá o quê, terem uma língua própria?
Os estudos da Parapsicologia têm comprovado que esse "fenômeno" não passa de histeria. Faculdades humanas do inconsciente podem fazer-nos gaguejar palavras incompreensíveis, mesmo que seja em conjunto. Ainda mais num ambiente propício pra isso, com musiquinhas melosas, grande número de pessoas crendo no suposto dom e o grande incentivo que recebem.
Veremos a luz das escrituras o que realmente é o falar em línguas. Primeiro é bom evidenciar que esse dom na verdade não é pronunciar palavras inexistentes no mundo e sim falar em línguas que não se tem conhecimento e os ouvintes, ouvirem em sua própria língua natal. Esse dom foi concedido para Edificação da Igreja e como está escrito é para os descrentes (I Coríntios 14, 22). A Igreja necessitava se espalhar para ser como Ela é hoje Católica (Universal, que seguiria o que Cristo disse para pregar a todos os povos). Por esse motivo Deus deu aos apóstolos esse dom para que mais fácil fosse a comunicação com povos de outras regiões e culturas, cumprindo assim, o que foi profetizado (Is 66,18)..
Explica bem Santo Agostinho, como pus em outro post:
"Quem em nossos dias, espera que aqueles que são impostas as mãos para que recebam o Espírito Santo, devem portanto falar em línguas, saiba que esses sinais foram necessários para aquele tempo pois eles foram dados com o significado de que o Espírito seria derramado sobre os homens de todas as línguas para demonstrar que o evangelho de Deus seria proclamado em todas as línguas existentes sobre a Terra. Portanto o que aconteceu, aconteceu com esse significado e passou."
Passagens sobre o dom:
“Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no
mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se
repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e
maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua. Profundamente impressionados, manifestavam a sua
admiração: Não são, porventura, galileus todos estes que falam? Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Partos, medos, elamitas; os que habitam a Macedônia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, judeus ou prosélitos, cretenses e árabes; ouvimo-los publicar em nossas línguas as maravilhas de Deus! Estavam, pois, todos atônitos e, sem saber o que pensar, perguntavam uns aos outros: Que significam estas coisas?” (At 2,1-12).
Passagem mais clara a respeito. Aí vemos que os apóstolos pronunciavam palavras e os povos de outras regiões ouviam em sua própria língua de origem, ou seja, não tem nada a ver com o "Oh xamenenotirandeorodemá" pentecostal
"E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.
E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios.
Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus." (At 10, 44-46)
Nessa passagem não se pode ver muita coisa. Mas fica uma pergunta falar em línguas (plural) é o mesmo que falar uma língua (singular) específica? Ora, falar em línguas (plural) demonstra que os gentios pronunciavam línguas que não eram de seu conhecimento.
"E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.
E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam.
E estes eram, ao todo, uns doze homens.
E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus.
Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano.
E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos." (Atos 19, 5-10)
É evidente que o dom nada tem haver com o que acontecesse no meio pentecostal. Aqui, vemos que a conclusão disso foi que "todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos", ou seja, o dom de línguas é falar uma verdadeira língua estrangeira.
"E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também intérprete para que a igreja receba edificação. (1 Coríntios 14, 5)
...Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar." (1 Coríntios 14, 13)
Ser intérprete é diferente de ser Tradutor. A função do intérprete não era traduzir o que foi dito e sim dar o entendimento, pois os que ouviam conheciam a língua.
Explica Tomás de Aquino que por o dom ser manifestação Divina expressa, por isso, muito simbolismo, uma linguagem complexa, necessitando, assim, de um intéprete que possa dar entendimento. É o que explica a passagem abaixo:
"Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios" (1 Coríntios 14:2)
É bom observar que "Corinto era uma cidade cosmopolita, com ponto marítimo, de rotas internacionais entre Oriente e o Oriente..."
"É de se notar que na 1ª carta aos Tessalonicenses não se menciona o dom das línguas, embora São Paulo a tenha escrito quando estava empenhado na evangelização e na organização da vida litúrgica de Coríntios. Isso é devido o fato de que não havia cristãos estrangeiros em Tessalônica e por isso a comunidade cristã era homogênea.
Ademais, essa cidade não era cosmopolita, e seu ponto marítimo não estava incluído nas rotas internacionais dos navios mercantes"
Veremos o que disse os Santos da Igreja:
"É este Espírito que Davi pediu para o gênero humano, ao dizer: 'Confirma-me pelo teu Espírito que dirige' (cf. Sl 51,14). E ainda este Espírito que Lucas nos diz ter descido, depois da ascensão do Senhor, sobre os discípulos no dia de Pentecostes, com o poder de falar em todas as línguas dos povos e abrir-lhes um novo testamento. Eis por que, na harmonia de todas as línguas, cantavam hinos a Deus, enquanto o Espírito Santo reunia na unidade as raças diferentes e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações. Foi por essa razão que o Senhor prometera enviar o Paráclito que nos faria dignos de Deus. Assim como a farinha seca não pode, sem água, tornar-se uma só massa, nem um só pão, também nós não poderíamos tornar um só em Cristo, sem a água que vem do céu."
“Por isso o Apóstolo [Paulo] diz: Falamos de sabedoria entre os perfeitos, chamando perfeitos os que receberam o Espírito de Deus e que falam todas as línguas graças a este Espírito, como ele fazia e como ainda ouvimos muitos irmãos na Igreja, que possuem o carisma profético e que, pelo Espírito, falam em todas as línguas, revelam as coisas escondidas dos homens para sua utilidade e expõem os mistérios de Deus” Santo Ireneu (séc. II)
"Ele desceu sobre aqueles que o Senhor Jesus havia reunido porque creram n'Ele. Ele desceu sobre a Igreja. Certamente um dom pessoal, que cada um recebeu em particular, mas porque estavam unidos, em comunhão - e justamente “no dia de Pentecostes estavam todos reunidos no mesmo lugar” (At 2, 1) - e sofreram uma transformação radical: repentinamente tomaram consciência da Palavra de Deus em seu seio e puseram-se a comunicar em todas as línguas as maravilhas de Deus. Donde o discurso de Pedro anunciando com audácia a Ressurreição do Crucificado àqueles mesmos que O crucificaram" São João Crisóstomo (séc. IV)
“Falavam todas as línguas. Assim aprouve a Deus manifestar a presença do Espírito Santo: fazer com que falassem todas as línguas aqueles que o tivessem recebido. Porquanto é preciso compreender, caríssimos irmãos, que o amor é infundido em nossos corações por meio do Espírito Santo."
[...] Com razão, pois, quando se ouviu que falavam todas as línguas, alguns disseram: Estão bêbados de vinho doce (At 2, 13). De fato, já se tinham tornado odres novos, renovados pela graça da santidade a fim de que, cheios de vinho novo, isto é, do Espírito Santo, fermentassem, falando todas as línguas e prefigurassem, por aquele milagre evidente, a Igreja católica, que haveria de estar no meio das línguas de todos os povos.” Um autor africano (séc. IV)
“Depois de ter passado quarenta dias com seus discípulos, subiu ao céu o Senhor ressuscitado. E no qüinquagésimo dia, que hoje celebramos, enviou o Espírito Santo, como está escrito: De repente, veio do céu um ruído semelhante ao soprar de impetuoso vendaval. E apareceram umas como línguas de fogo, que se distribuíram e foram pousar sobre cada um deles. E começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os impelia a falarem (At 2,2.3.4).
Aquele vento purificava os corações da palha da carne. Aquele fogo consumia o fogo da velha concupiscência. Aquelas línguas faladas pelos que estavam repletos do Espírito Santo prefiguravam a futura Igreja, que haveria de estar entre as línguas de todos os povos. De fato, após o dilúvio, a impia soberba dos homens construiu uma torre elevada contra o Senhor, e o gênero humano mereceu ser dividido em línguas diversas, começando cada povo a falar sua língua para não ser entendido pelos outros povos. Agora, ao invés, a humilde piedade dos fiéis recolheu a diversidade destas línguas na unidade da Igreja, onde a caridade reuniu aquilo que a discórdia tinha espalhado. E os membros dispersos do corpo humano, como membros de um único corpo, voltam a ser unificados na única cabeça que é Cristo, fundidos na unidade de seu santo corpo pelo fogo do amor. [...] Vós, porém, irmãos, membros do corpo de Cristo, germes de unidade, filhos da paz, celebrai este dia alegres, celebrai-o seguros. Porque em vós se realiza aquilo que era prefigurado nos dias em que veio o Espírito Santo. Porque, como outrora quem recebia o Espírito Santo, embora fosse um homem só, falava todas as línguas, assim agora fala todas as línguas, através de todos os povos, a própria unidade. Estabelecidos nela, possuis o Espírito Santo, os que não estais separados por nenhum cisma da Igreja de Cristo que fala todas as línguas."
“Quando desceu o Espírito Santo sobre os discípulos, estes falaram as línguas de todos e por todos foram entendidos. As línguas divididas se uniram em uma. Logo, se todavia ensinam e são gentis, é conveniente ter diversas línguas. Dizem ter uma língua? Vejam a Igreja, porque em meio da diversidade de línguas de carne, existe uma só na fé do coração.” Santo Agostinho (séc. IV-V)
“Os que tentaram edificar uma torre contra os desígnios de Deus, perderam o uso da mesma língua, e nos que temiam humildemente a Deus foram unidas todas as línguas da terra. Neste dia a humildade recebeu por prêmio esta graça; na construção da torre, a soberba recebeu como castigo a confusão.” São Gregório Magno (séc. V)
“A Igreja nascia no dom das línguas. As línguas significavam a multiplicidade e variedade dos povos, que ao longo dos séculos deviam entrar na mesma comunidade da Igreja de Cristo.”
(Papa João Paulo II, Homilia na Solenidade de Pentecostes. Em 7 de Junho de 1992.)
Então, caros amigos pentecostais parem de adulterar o sentido bíblico do dom extraordinário (então não comum) do falar em línguas.
Nelson Monteiro Sarmento
Notas:
Renovação Carismática Católica - Autor: Geraldo Rondelli
O dom de línguas - Autor: Alessandro Lima
P.s: Estou novamente postando este trabalho, pois, por engano (espero) alguém o excluiu. Desculpe pelo transtorno.
Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens, innixa super Dilectum suum? Quem é esta que sobe do deserto cheia de delícias e apoiada em seu Amado?
1 comentários:
Entendo que o milagre em Pentecostes vem se opor a outro acontecimento narrado no livro do Gênesis: Torre de Babel. Percebam os senhores que em Pentecostes acontece o contrário do que ocorrera em Babel: as pessoas se entendem mesmo que falem línguas diversas, enquanto em Babel as pessoas, ainda que falassem a mesma língua, não se entendiam.
A Igreja deveria dar grande ênfase na Festa de Pentecostes sobre a unidade que surge quando as pessoas, mesmo sendo de línguas e países diferentes, se sentem unidas pelos dons do Espírito Santo. Se o dom das linguas ou outro dom qualquer não servir para a unidade dos cristãos nem deveria ser alardeado e divulgado.
Temos na nossa Igreja muitas pessoas que se dizem agraciadas com os dons de Deus, mas carregadas de rancor e incapazes de aceitar a diversidade de ideias e culturas. Hú muitas pessoas que se dizem dotdas de dons especiais pelo Espírito Santo e que estão longe de entender e aceitar o milagre Corpo Místico de Cristo.
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