Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens, innixa super Dilectum suum? Quem é esta que sobe do deserto cheia de delícias e apoiada em seu Amado?

terça-feira, 7 de junho de 2011

Católicos ou membros de um "Clube do Bolinha"?!



Caríssimos leitores,

Somos católicos ou membros
 de um "Clube do Bolinha"?!
Há algum tempo, venho observando uma tendência que me deixa bastante aborrecido, pois é difundida nos meios católicos tradicionais, e é claramente contra a Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, tal tendência, não é tão explícita e muito menos herética, mas demanda uma certa observação para ser notada.

Como é sabido, a Fé verdadeira é uma virtude intelectual, mas isto não quer dizer que nem todos estejam aptos à Fé. Muito pelo contrário, todos os seres humanos são dotados de intelecto, - formado por inteligência e vontade - portanto, podem aceitar as verdades de Fé motivados pelas provas que a Igreja traz consigo de sua veracidade, com assentimento da vontade, e assim receber de Deus o dom da Fé, que é uma certeza sobrenatural à cerca da doutrina de sua Santa Igreja.

Possuindo um nível razoável de instrução catequética, podemos observar que a doutrina da Igreja é riquíssima, e que possui um depósito imenso de verdades de Fé que, quanto mais estuda-se, mais surpreende-se com sua racionalidade, beleza e profundidade.
Assim, tais estudos levam, invariavelmente, o fiel à uma elevação erudita.

Estes estudos catequéticos, mais aprofundados, são geralmente feitos por católicos tradicionais, católicos não contaminados com o gérmen do protestantismo e outras pragas, e que possuem um conceito correto de Fé.
Também podemos ressaltar que Deus é bem, verdade e beleza absolutos. E isto explica a proximidade da doutrina católica com a arte, com o belo. Aproximação esta manifestada na arte sacra e também nos ritos tradicionais que, além de sua incomensurável sacralidade, são belíssimos.

Contudo, este aprofundamento do estudo catequético, e consequente elevação erudita, são um privilégio de poucos interessados que possuem tempo e meios para tal.
Estes privilegiados são em maioria pessoas com boas condições financeiras, que possuem um bom nível de instrução e tiveram uma formação mais erudita, o que contribui para estes estudos.

Logo, chegamos à um ponto chave: A maior parte dos católicos bem instruídos, o são por causa de seu nível de instrução que os proporcionou bases para o estudo catequético. Assim, a elite de católicos tradicionais, bem formados, que compreendem a doutrina católica e a importância sacral da liturgia tradicional, bem como possui o preço pela beleza desta liturgia e arte sacra, não é somente uma elite com boa formação católica e apreço pelo belo, mas é uma elite inserida, em sua maior parte, em camadas mais altas da sociedade, com maior poder aquisitivo.

Assim, meus irmãos, podemos ver que grande parte dos católicos tradicionais são pessoas que tiveram uma boa base para introduzir-se nos estudos catequéticos mais aprofundados devido à suas condições socio-econômicas. Até aqui, creio que nenhuma novidade tenha sido apresentada à vocês.

A minha observação vai além disto.

Estes católicos tradicionais, devido à situação em que encontra-se o povo de Deus atualmente, é obrigado a concentrar-se em grupos, que acabam virando não somente núcleos de grande instrução catequética e erudição, mas também de elevada classe social.
Assim, mesmo que sem intenções, estes grupos acabam criando barreiras quase intransponíveis para pessoas de menor instrução e baixa renda penetrarem no catolicismo tradicional.

Na última Missa Tridentina que fui, estavam os fiéis, quase na sua totalidade, muito bem vestidos. Os homens de roupa sociais ou trajes bem alinhados, e as mulheres também encontravam-se assim.
De repente, antes da Missa, adentrou na Igreja um homem mal vestido, e aquilo gerou um forte contraste. Pude ver isto no rosto de um senhor de terno, que estava próximo à porta da Igreja, pois ele lançou um olhar, talvez intrigado, ou mesmo assustado, sobre o pobre homem maltrapílio que dirigia-se ao banco da Igreja intrigado com o Ordinário da Missa Tridentina que havia recebido em mãos.

Após a Missa, quando eu estava já na calçada com uma amiga e conhecidos dela, um homem, também mal vestido, pediu-nos dinheiro. Após isto, passou por nós e seguiu pela calçada. Não demorou muito e o homem voltou, olhou para mim, e como que indicou para dentro dentro do pátio da Igreja e as escadarias, que dão acesso à entrada da Igreja, e perguntou-me se podia entrar. Eu não hesitei, e disse-lhe que podia sim.

Ora, não somos um clube, não somos uma associação de pessoas eruditas, somos todos apenas miseráveis pecadores, uns mais santos, é claro, mas todos membros da Santa Igreja de Cristo.
 Não é aceitável que se criem estes grupos fechados, como castelos rodeados de um foço, onde atividades como reuniões ou coisas do gênero, relacionados às atividades de apostolado, exijam um poder aquisitivo para a participação.
Não podemos passar a falsa ideia de que a Missa e a Igreja são "coisas de burguês", não podemos deixar que a condição sócio-econômica dos católicos tradicionais vire requisito para a introdução dos fiéis neste meio. Meio este que é de grande valor e necessidade, pois o catolicismo tradicional é o verdadeiro catolicismo, e não podemos deixar às margens, atirados às heresias, quem não possui condições de acompanhar os luxos empregados nas atividades de apostolado tradicionais.

Não sou socialista, possuo verdadeira aversão à esta funesta doutrina. Mas isto não justifica a falta de caridade e atenção para com nossos irmãos que não possuem as mesma condições. Já dizia o Prof. Fedeli, que o rico foi feito para dar.
Um coisa é o refino para o sagrado, como os bens materiais de que dispõe a Santa Igreja, outra coisa é fechar-se no seu grupo bem instruído e posicionado socio-economicamente como se a doutrina de Cristo fosse algo somente para "quem pode".

Eu pertenço à classe média. Nunca tive grandes dificuldades em participar das atividades católicas tradicionais, mas não posso negar que já senti estes obstáculos e observo o contraste e os impecílios gerados por isto, as dificuldades que impõe-se à um povo que definha nas mãos dos heréticos modernistas da "Nova igreja", e encontra-se praticamente excluído do catolicismo verdadeiro por não pertencer aos grupos que têm acesso à ele.

Sejamos mais fraternos, humildes e atentos aos nossos irmãos e suas dificuldades.
Sejamos, por fim, católicos verdadeiros, tradicionais, e não um "Clube do Bolinha".

"Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes." (Evangelium secundum Matthaeum, 25, 40);

In Corde Iesu,
Marcelo Maciel.

1 comentários:

Jefferson Nóbrega disse...

Marcelo,

Concordo com todas as linhas aqui expostas.

Posso dizer tudo o que dissestes, pois já senti na pele isso.

Sou de família bastante probre e que sempre vencemos grandes obstáculos para ter boa educação. Essa educação que levou-me a buscar os ensinamentos e a gloriosa história católica.

No entanto, não foi fácil ir a Missa Tridentina, eu tinha uma preocupação (idiota por sinal) justamente com o que dissestes acima. Pensava com que roupa iria, já que havia passado próximo da Igreja e vi os fiéis com vestimentas da qual nem parcelando em 12 vezes posso comprar. Depois de muito tempo, venci esse obstáculo (criado por mim) e fui a Missa. De início me senti meio deslocado, mas acho que acostumaram com esse "maltrapilho" (não tão maltrapilho assim).

Mas, as próprias Igrejas escolhidas pelo Bispo para celebrar a Missa Tridentina, ficavam nos bairros mais nobres e até de difícil acesso para quem não tinha carro. Eu mesmo só fui a missa tridentina após conseguir comprar meu primeiro carro, pois no domingo o transporte é difícil. É claro que boa parte dos obstáculos era criado pela minha preguiça, que graças a Deus venci.

Acredito que é justamente essa imagem de elitização que faz com que as pessoas sintam receio de buscar o Rito Gregoriano, principalmente o povo brasileiro que por causa da TL tem uma visão de que o Catolicismo é de "pobre".

É extremamente importante ter abordado esse assunto e é algo que precisamos combater.

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