Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens, innixa super Dilectum suum? Quem é esta que sobe do deserto cheia de delícias e apoiada em seu Amado?

domingo, 10 de abril de 2011

Catecismo da Igreja Católica x Catecismo de São Pio X


Repostagem; Artigo de Captare.

 

No meu último artigo – “A Crise da Igreja Católica” – apontei as principais características da crise que a Santa Igreja Católica atravessa atualmente. Também propus alguns nomes-chaves de santos que poderiam ajudar a compreendê-la e combatê-la. Um destes nomes é o do Papa São Pio X. Hoje eu passo a fazer um comparação entre o Catecismo composto por este papa – que foi um dos primeiros a visualizar o tamanho da crise e as suas verdadeiras causas – e o atual Catecismo da Igreja Católica – composto quando a Igreja já se encontrava em meio à crise. A edição do Catecismo de São Pio X utilizada aqui é aquela publicada pelo Serviço de Animação Eucarística Mariana e vendido pela Livraria Permanência (esta edição contém também a Carta Apostólica Acerbo Nimis e dois Apêndices; aqui pode ser encontrada uma versão eletrônica do Catecismo, porém sem a Acerbo Nimis e os apêndices). A edição do Catecismo da Igreja Católica que é utilizada aqui é aquela do próprio site da Santa Sé ( e que pode ser encontrado aqui).
A diferença entre os catecismos já é marcante nas Cartas apostólicas que os introduzem: a Acerbo Nimis, que introduz o Catecismo de São Pio X, alerta para um grande problema, que é o desconhecimento generalizado das coisas de Deus, descrevendo suas conseqüências nefastas, propondo como solução a ênfase no ensino da catequese e discutindo exaustivamente como isto deve ser feito para obter maior êxito; já a Fidei Depositum, que introduz e apresenta o Catecismo da Igreja Católica, se parece muito mais com uma resenha editorial do que com uma carta apostólica, pois se tem como ponto positivo nos oferecer uma descrição detalhada da elaboração deste catecismo e do conteúdo dele, pouco diz da sua importância ou necessidade. No início da carta fala-se de o catecismo ser fruto do desejo dos padres reunidos no Sínodo de 1985, e principalmente de que fosse algo adaptado à vida atual dos cristãos. Mas ao contrário da Acerbo Nimis, não há nada nesta carta que justifique este desejo dos padres sinodais, principalmente levando em conta que a Igreja já possuía três catecismos (e muito bons!) até ali. O Catecismo de São Pio X, inclusive, era relativamente bem recente e ele é tratado aqui como se não existisse. A carta só nos deixa como uma possível justificativa o desejo de que o catecismo fosse algo “mais atualizado”. E isto é algo curioso tanto em relação ao Catecismo da Igreja Católica em siquanto em relação ao Concílio Vaticano II que o inspirou: os dois sempre são tratados como a solução para algo que nunca é descrito com muita precisão – e que sempre que é examinado com calma acaba parecendo apenas um problema de “desatualização” – mas é algo que seus defensores garantem que deve ser resolvido o quanto antes.
De um modo geral, a diferença mais gritante entre os dois catecismos é o tamanho: o Catecismo da Igreja Católica é muito maior que o Catecismo de São Pio X. Tomemos como base de comparação duas medidas: o parágrafo (§) e as “lições”. O Parágrafo é a menor unidade do Catecismo da Igreja Católica, corresponde mais ou menos ao parágrafo normal da escrita. No Catecismo de São Pio X, a medida do parágrafo é diferente: trata-se de subdivisões de certos capítulos. A medida mais próxima do parágrafo usado no Catecismo da Igreja católica é a resposta que é dada a cada questão do Catecismo de São Pio X. Por isso, a título de comparação, consideraremos como parágrafo os parágrafos do Catecismo da Igreja Católica e a resposta a uma questão do catecismo de São Pio X. Já as lições, correspondem a um pequeno grupo de parágrafos em torno de um assunto específico. O nome foi tirado da “Lição Preliminar” que introduz o conteúdo do Catecismo de São pio X. Consideraremos lições as explicações de tamanho similar: no catecismo de São Pio X são os capítulos que não são divididos em parágrafos, ou os parágrafos dos capítulos que o são; no Catecismo da Igreja Católica, em geral são os trechos sob os subtítulos com numeração romana.
Pois bem, antes mesmo de abrirmos os catecismos nós vemos que o Catecismo da Igreja Católica é bem maior que o Catecismo de São Pio X. Mas dentro deles isto se torna mais evidente: o Catecismo de São Pio X tem 96 lições; o Catecismo da Igreja Católica tem 240. Quase o triplo. Em termos de parágrafos, a coisa não é diferente: são 990 no Catecismo de São Pio X contra 2865 no Catecismo da Igreja Católica. Ao contrário do que alguém possa pensar disso, este dado depõe contra o Catecismo da Igreja Católica. Isso mesmo: Contra! Pois imagine que, ao cumprir a obrigação de estudar a Doutrina do Cristo, alguém decidisse meditar uma lição do Catecismo por dia. Com o Catecismo de São Pio X, esta pessoa levaria cerca de três meses para concluir um ciclo dessa tarefa. Já o Catecismo de Igreja Católica exigiria oito meses! Com pouco mais de um terço do tempo, uma pessoa munida do Catecismo de São Pio X percorre toda a Doutrina Cristã. As pessoas atarefadas, que resolvessem meditar um parágrafo por dia, com o Catecismo de São Pio X conseguiriam estudar tudo em três anos. Com o Catecismo da Igreja Católica, quase oito anos. Uma criança de três anos é um bebê ainda. Uma de sete é uma que já deve começar a estudar a Doutrina Cristã também!
Mas o tamanho não diz respeito apenas à praticidade, e ao tempo que uma pessoa leva para percorrer toda a doutrina cristã. Diz respeito também à facilidade de assimilação e, com isso, o nível de cultura requerido para executar melhor esta tarefa, pois um texto mais curto é mais fácil de assimilar e de meditar em cima dele. Pessoas mais simples fogem de leituras mais demoradas e com muitas voltas em torno do mesmo assunto.
Alguém poderia argumentar que textos mais longos tendem a aprofundar mais a matéria e que essa seria uma vantagem do Catecismo da Igreja Católica. Isto seria verdade se estivéssemos falando apenas das notas de rodapé contidas nele e ausentes no Catecismo de São Pio X: passagens bíblicas e do Magistério da Igreja, assim como trechos de obras de santos e doutores ilustram aprofundam e confirmam a doutrina exposta no catecismo. Mas se estamos falando do texto em si de cada um dos dois, o aprofundamento esperado no Catecismo da Igreja Católica não acontece. Às vezes, pelo contrário, o texto do Catecismo confunde mais pela sua maior extensão, como podemos ver no trecho abaixo:
56. Desfeita a unidade do género humano pelo pecado, Deus procurou imediatamente, salvar a humanidade intervindo com cada uma das suas partes. A aliança com Noé, a seguir ao dilúvio, exprime o princípio da economia divina em relação às «nações», quer dizer, em relação aos homens reagrupados «por países e línguas, por famílias e nações» (Gn 10, 5).
57. Esta ordem, ao mesmo tempo cósmica, social e religiosa da pluralidade das nações, destinava-se a limitar o orgulho duma humanidade decaída, que, unânime na sua perversidade, pretendia refazer por si mesma a própria unidade, à maneira de Babel. Mas, por causa do pecado, quer o politeísmo quer a idolatria da nação e do seu chefe são uma contínua ameaça de perversão pagã a esta economia provisória.
E já que este trecho faz a ponte entre aspectos gerais e o conteúdo propriamente dito, pois diz respeito aos dois aspectos, passamos agora a comparar os conteúdos. É da identidade cristã que todos os catecismos da doutrina cristã se dividam em exposições sobre os quatro pilares da Igreja cristã, pois assim tem sido desde o cristianismo primitivo (como podemos ver em At 2, 42). Os quatro pilares são: as verdades de fé (resumidas no credo), a oração, os mandamentos da caridade e os sacramentos (em referência à doutrina dos apóstolos, à oração, às reuniões em comum e à partilha do pão). E é tradicional que o catecismo comece com uma pequena introdução e passe a tratar das verdades da fé cristã, que é o básico.
No Catecismo de São Pio X, esta introdução contém apenas a Lição Preliminar, dando uma idéia do que seja um cristão, e o Primeiro Capítulo dando uma visão geral do Símbolo dos Apóstolos (Credo). Já no Catecismo da Igreja Católica temos um prólogo e três capítulos! Tudo isso antes de entrar propriamente no conteúdo da fé cristã. Tudo bem que nestes capítulos são explicadas coisas importantes, como o que é a Bíblia Sagradao que é a Tradiçãoo que é fé. Mas estes assuntos ficariam melhores em lições mais avançadas (como, por exemplo, a explicação do que é Bíblia, a partir do §101, e do que é Sagrada Tradição, a partir do §74) ou em livros próprios (como, por exemplo, as etapas da Revelação, a partir do §51), afinal é melhor saber primeiro quem é Deus, para depois saber por que temos que ter fé n’Ele; é melhor sabermos quem é Jesus Cristo para depois entendermos por que a Revelação do Pai é definitiva n’Ele. Pois é justamente o que o Catecismo de São Pio X faz: ele ensina primeiro as primeiras coisas. São Pio X também explica o que são as Escrituras e a Tradição, mas é numa lição posterior, quando está tratando da Fé enquanto uma virtude. Ele também descreve as etapas da Revelação, mas é num suplemento com a história da salvação colocado depois do Catecismo propriamente dito.
O Catecismo da Igreja Católica traz no seu prólogo, uma espécie de desenvolvimento histórico da catequese e a sua definição, o que é de fato interessante. Mas é muito curioso notar que, apesar de haver elogios e até citações do Catecismo Romano (do Concílio de Trento), não há nem mesmo a mínima referência ao Catecismo de São Pio X nem quando ele narra a “história da catequese”, nem quando ele explica que em momentos decisivos da história da Igreja a catequese sempre fica em evidência.
E, finalmente, a principal diferença entre os catecismos, e que é mais patente no que diz respeito ao seu conteúdo, é o tom da linguagem utilizado: o Catecismo de São Pio X é mais incisivo, mais direto. Ele consegue este feito por usar sentenças curtas e objetivas o que, além de econômico, evita o problema da margem interpretativa, isto é, aquela possibilidade de um texto ter mais de uma interpretação, que é menor em textos mais curtos e diretos. Isto fica evidente ao colocarmos os dois catecismos lado-a-lado como, por exemplo, ao compararmos a maneira que os dois definem o Símbolo de Fé:
CSPX:11) Que nos ensina o Credo?
O Credo ensina-nos os principais artigos da nossa santa Fé.
16) Por que chamamos ao Credo Símbolo dos Apóstolos?
O Credo chama-se Símbolo dos Apóstolos, porque é um compêndio das verdades da Fé, ensinadas pelos Apóstolos.
20)Que contêm os artigos do Credo?
Os artigos do Credo contêm tudo o que de mais importante devemos crer acerca de Deus, de Jesus Cristo e da Igreja, sua Esposa.
CIC:
4. Aqueles que, pela fé e pelo Baptismo, pertencem a Cristo, devem confessar a sua fé baptismal diante dos homens. Por isso, o Catecismo começa por expor em que consiste a Revelação, pela qual Deus Se dirige e Se dá ao homem, e a fé pela qual o homem responde a Deus (Primeira Secção). O Símbolo da fé resume os dons que Deus faz ao homem, como Autor de todo o bem, Redentor e Santificador, e articula-os em volta dos «três capítulos» do nosso Baptismo – a fé num só Deus: o Pai Todo-poderoso, Criador; e o seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador: e o Espírito Santo, na Santa Igreja (Segunda Secção).
Como podemos ver na comparação acima que, no Catecismo da Igreja Católica, a importância do Símbolo dos Apóstolos pode ser minimizada e até relativizada, pois ele coloca a finalidade de aprendê-lo no dever de confessar a fé diante dos homens. E os artigos da fé tratariam apenas dos dons de Deus ao homem. O Catecismo de São Pio X ensina simplesmente que são verdades nas quais devemos crer, mesmo que não as confessemos publicamente. E elas contêm tudo acerca de Deus e da Igreja, e não apenas as coisas que Deus pode nos dar.
Vemos algo semelhante quanto a quem deve ensinar sobre as coisas de Deus:
CSPX:7) De quem devemos nós receber e aprender a Dou trina Cristã?
Devemos receber e aprender a Doutrina Cristã da Santa Igreja Católica.
CIC:
39. Ao defender a capacidade da razão humana para conhecer Deus, a Igreja exprime a sua confiança na possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos os homens. Esta convicção está na base do seu diálogo com as outras religiões, com a filosofia e as ciências, e também com os descrentes e os ateus.
40. Mas dado que o nosso conhecimento de Deus é limitado, a nossa linguagem, ao falar de Deus, também o é. Não podemos falar de Deus senão a partir das criaturas e segundo o nosso modo humano limitado de conhecer e de pensar.
Acima podemos ver que o Catecismo de São Pio X deixa bem claro que é da Igreja Católica que devemos aprender as coisas de Deus. Já o Catecismo da Igreja Católica não diz que deve ser assim, apenas que a Igreja ensina deste modo. E ainda por cima o faz como que pedindo desculpas por apenas poder fazê-lo de modo limitado.
Concluindo, nesta comparação podemos ver claramente um dos modos pelo qual “[o]s discursos oficiais da Igreja perderam firmeza e, com ela, sua credibilidade e eficácia perante o mundo”, como eu já tinha apontado no meu artigo anterior. Pois se os cristãos não são ensinados de maneira firme, se não são ensinados a priorizar as coisas que realmente devem ser priorizadas e se são postas dificuldades práticas para que eles possam conhecer a fé em sua totalidade, aquela força moral que a Igreja sempre teve vai se empalidecendo, até que se torne apenas uma sombra da qual Satanás escarnece facilmente.

Mas, calma! Ainda não acabou. Estamos apenas no começo da comparação entre os Catecismos e apenas tratamos de suas introduções. A partir do próximo artigo estarei comparando o modo como os Catecismos abordam as verdades de fé, e a superioridade do Catecismo de São Pio X ficará cada vez mais patente.

Vale a pena esperar...

Captare
“Quia non est nobis conluctatio adversus carnem et sanguinem, sed adversus principes et potestates, adversus mundi rectores tenebrarum harum, contra spiritalia nequitiæ in cælestibus”. (Ef 6,12)
http://captare777.wordpress.com/

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