A resposta é: amar e odiar. Muitos lêem o AT e o NT e acabam pensando que as duas alianças entram em choque. Esse é um erro, inclusive, de muitos cristãos, até de padres. As principais passagens que são confundidas são as que caracterizam o título deste artigo. Devemos amar ou odiar nossos inimigos?
Passo a transcrever a suposta contradição depois darei a explicação.
"Deus odeia igualmente o ímpio e a sua impiedade." (Sab. 14, 9 )
"Ó Senhor, não odiarei os que Te odeiam? E não me consumirei contra os teus inimigos? Com ódio perfeito eu os odiei e tornaram-se meus inimigos" (Sl 138, 21-22)
"Tens ódio aos adoradores de coisas vãs e de mentiras" (Sl 30, 7)
"Odeio a assembléia dos malvados e não me sentarei com os ímpios" (Sl 25, 5)
"O profeta Jeú, filho de Hanani, foi encontrar-se com o rei e disse: —Por que é que o senhor ajuda os maus e é amigo dos inimigos de Deus? Por causa disso, o SENHOR Deus vai castigá-lo."(2 Crônicas 19,2)
Numa suposta contradição em relação ao versículo abaixo:
"Amai, porém a vossos inimigos[...] (Lucas 6,35)
Os defensores de que "odiar o inimigo", "olho por olho" etc são passagens absolutamente opostas à amar o próximo, utilizam uma aparente verdade. Nós sabemos que Deus se revelou gradualmente, sendo Cristo Jesus a plenitude da revelação. Dizem eles que desse modo, revelou algo que depois daria verdadeiro sentido. Mas isso é um pensamento herético. Deus é perfeito e suas leis são perfeitas, independentemente ao povo que está se revelando. Devemos harmonizar as escrituras e não tratá-las como contraditórias. Todo ensinamento moral da Antiga Aliança nunca seria mudado na Nova Aliança. Deus se revela aos poucos, mas não erra e se corrige depois. Assim, podemos dizer que Deus se revela gradualmente, mas nunca negando o que já havia revelado, pelo contrário, confirmando e completando. Esse erro de considerar contradição já ouvi até de ilustres padres, o Padre Paulo Ricardo é um exemplo disso. (Conf. Vídeo Catecismo - Cap. III Deus vem ao encontro do homem") O engano só tem vez por considerarem de forma errada a revelação de Deus.
Esses mesmos errantes ficam em maus lençóis sob essa passagem "Detratores, odiados por Deus" (Rm 1, 30).
Ora, aqui está dito de modo inequívoco que Deus odeia os detratores e o livro foi escrito em plena Nova Aliança.
Mas como resolver esse impasse?
O primeiro passo é definir as palavras.
São Tomás de Aquino sobre amar diz: "[...] amar não é senão querer o bem de alguém, é evidente que Deus ama tudo que existe." (Suma I, XX, II)
Ora, existem dois tipos de bem como explica o mesmo santo:
"Ora, duplo é o bem do homem: um absoluto e o outro relativo. O bem absoluto do homem é o fim último, conforme o Salmo: "Para mim é bom unirme a Deus"; e por consequência tudo o que se ordena a conduzir para esse fim. - O bem relativo e não absoluto do homem é o que lhe é atualmente bem, ou sob um certo aspecto. E esse não se pode merecer absoluta, mas relativamente." (Suma IV, CXXIV, X)
Sendo amar querer bem à alguém, odiar por ser o contrário é querer mal a alguém. Sendo que existem dois tipos de bem, é válido dizer que existem dois tipos de mal. Um relativo e outro absoluto. Desejar o mal absoluto seria alguém querer que outro se prive do bem último, perde-se a salvação, enquanto desejar o mal relativo seria querer que alguém se prive de um bem temporal e isto se pode desejar em vista do bem maior, o absoluto. Portanto podemos odiar nossos inimigos de duas formas uma de forma absoluta e outra de forma relativa. É este o ódio que devemos ter aos nossos inimigos, dessa forma os amamos e odiamos ao mesmo tempo, não sendo isso contradição, visto que no primeiro é de forma absoluta e no segundo é relativa.
Um exemplo claro disso eu encontrei num texto do Prof. Orlando Fedeli:
"É este amor absoluto com ódio relativo que exerce a mãe de uma criança que castiga, batendo em sua mão, por ter roubado um doce, sem pagar, no supermercado. Ela faz um ato de ódio relativo (faz doer a mão do filho) com amor absoluto, porque deseja para ele a virtude da honestidade, o céu, Deus."
É neste mesmo amor e ódio que fez a Igreja instituir a Santa Inquisição. É neste mesmo amor e ódio que os hereges eram punidos. É neste amor e ódio que é dito na Sagrada Escritura: "A quem Deus ama, Ele castiga" (Apoc. 3, 19)
Bem como explica São Tomás de Aquino "Ora, odiar o mal de alguém e querer o seu bem, é a mesma coisa. O ódio extremo é, portanto, um aspecto da caridade". (Suma II, II, XXV)
Concluímos, então, que devemos, sim, odiar os pecadores e amá-los ao mesmo tempo.
Santo Agostinho: "É preciso amar os homens de modo a não amar os seus erros" (S. Tomás cita em 4 Sent. D. 15, q. 2, a. 6, q. 2)
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