Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens, innixa super Dilectum suum? Quem é esta que sobe do deserto cheia de delícias e apoiada em seu Amado?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Por que o caráter sacrifical da Missa é menos claramente expressado, como se afirma, se o sacerdote está de frente para o povo?


Rebatendo com outra pergunta: se entre os especialistas se sabe perfeitamente que ao preconizar “o altar de frente para o povo” não se pode apelar a uma prática da igreja primitiva, por que não se tira a conseqüência que se impõe? Por que não retiram “as mesas do banquete” erigidas com surpreendente.

Muito provavelmente porque este tipo de mesa corresponde mais à nova concepção de Missa e de eucaristia do que a prática antiga.


Está muito claro que hoje se queria evitar dar a impressão de que a “santa mesa” (como se denomina o altar no Oriente) possa ser um altar do sacrifício. Sem dúvida é também a razão pela qual, em quase toda parte, só se põe no altar um ramo de flores, como se fosse a mesa de uma refeição de família, assim como duas ou três velas, que geralmente se colocam ao lado esquerdo da mesa, enquanto o jarro com flores fica do outro lado.

Busca-se a falta de simetria, e já não é necessário ter um ponto de referência central, como o que existia há pouco na cruz com os castiçais colocados à sua direita e esquerda. Deseja-se apenas uma mesa para a comida e não um altar.


O sacerdote se coloca diante do altar do sacrifício, não atrás. O mesmo fazia o sacerdote entre os pagãos. No santuário, seu olhar se dirigia para a representação da divindade a quem se oferecia o sacrifício. O mesmo se fazia no Templo de Jerusalém, onde o sacerdote encarregado de oferecer a vítima se colocava diante da “mesa do Senhor” (cf. Ml 1,12), como se chamava o grande altar dos holocaustos situado no centro do Templo, de frente para o templo interior, que guardava a arca da aliança no Santos dos Santos, lugar onde habita o Altíssimo (cf. Sl 16,15).

Uma refeição se desenvolve sob a presidência do pai de família no seio familiar. Diferentemente, em todas as religiões existe uma liturgia determinada para levar a cabo o sacrifício, que se desenvolve dentro ou diante de um santuário (que também pode ser uma árvore sagrada). O oficiante está separado da multidão e se põe diante desta, diante do altar e voltado para a divindade. Sempre as pessoas que oferecem um sacrifício estão voltadas para aquele a quem se destina o sacrifício e, nunca, para os que participam na cerimônia.

Em seu comentário ao livro dos Números (10,2), Orígenes se faz intérprete da concepção da Igreja primitiva: “Aquele que está diante do altar mostra por isso mesmo que é ele que cumpre as funções sacerdotais. Pois bem, a missão do sacerdote consiste em interceder pelos pecados do povo”. Em nossos dias, onde o sentido de pecado desaparece pouco a pouco, o sacerdócio é uma idéia que parece amplamente perdida.


Como sabemos, Lutero negou o caráter sacrifical da Missa: não via nela mais que a proclamação da Palavra de Deus, à qual seguia a celebração da Ceia. Daqui vem sua exigência, já mencionada, de que o celebrante estivesse voltado para a assembléia.

Certos teólogos católicos modernos não negam diretamente o caráter sacrifical da Missa, porém gostariam de vê-lo num segundo plano a fim de poder ressaltar melhor o caráter de ceia da celebração. Na maioria das vezes, por causa de considerações ecumênicas a favor dos protestantes, descuidando contudo de seu ecumenismo quanto às igrejas orientais ortodoxas para as quais o caráter sacrifical da Divina Liturgia é um fato indiscutível.

Somente a eliminação da “mesa da refeição” e o retorno do “altar mor” na celebração poderão nos levar a mudanças na concepção de Missa e de Eucaristia, ou seja, à Missa entendida como ato de adoração e veneração a Deus, como ato de ação de graças por seus benefícios, por nossa salvação e nossa vocação ao Reino dos Céus, e como representação mística do sacrifício da cruz do Senhor.

Não obstante, como já temos visto, isto não exclui que a Liturgia da Palavra seja celebrada não no altar, mas na cadeira ou no ambão, como anteriormente se fazia na Missa pontifical. Porém as orações devem ser feitas todas para o oriente, isto é, para a imagem de Cristo na abside e para a cruz no altar.

Dado que durante nossa peregrinação na terra não nos é possível contemplar toda a grandeza domistério celebrado e menos ainda o próprio Cristo, nem a “assembléia celeste”, não basta falar continuamente de tudo que o sacrifício da Missa tem de sublime. É bem mais necessário fazer todo o possível para pôr em evidência aos olhos dos homens a grandeza deste sacrifício através da própria celebração, por meio de uma disposição artística da casa do Senhor e especialmente do altar.

Pode-se aplicar tanto ao desenvolvimento litúrgico como às imagens o que disse o pseudo- Dionísio, o Aeropagita, sobre os “véus sagrados” em seu livro “Sobre os nomes sagrado” (1,4): esses véus “que (ainda hoje) escondem o espiritual no universo sensível, e o supra-terrestre no terrestre, que conferem forma e imagem ao que não tem forma nem imagem... Porém chegará um dia em que, convertidos em imperecíveis e imortais, e alcançando a paz bem-aventurada junto a Cristo, estaremos, como diz a Escritura, com o Senhor (cf. 1Ts 4,17), cheios da contemplação de sua presença visível”.

(Monsenhor Klaus Gamber - Voltados para o Senhor P. XXVII)

Fonte:http://praelio.blogspot.com/2009/10/por-que-o-carater-sacrifical-da-missa-e.html

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