Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens, innixa super Dilectum suum? Quem é esta que sobe do deserto cheia de delícias e apoiada em seu Amado?

sexta-feira, 21 de maio de 2010

João Eck x Lutero (Diálogo fictício)

TEMA: Purgatório



Lutero: Dr. Eck, o purgatório foi mais uma das doutrinas antibiblicas que a Igreja Católica inventou. Não vemos respaldo bíblico no AT, muito menos no NT. Sabemos que os primeiros cristãos não criam nesse absurdo. Esse embuste só foi ser criado no ano de 503 dc.

João Eck: Caro Lutero, não nos faltará passagens bíblicas para lhe comprovar a existência do purgatório. O purgatório é uma doutrina aceita desde os primórdios do cristianismo como mais adiante lhe provarei.
Comecemos então com as passagens do AT referente ao “purgare” (latim, "para purificar"):
“e puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar qualquer transgressão, ao ver diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por causa dos pecados.  Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas." (II Mac 12,42-46)
Como vês sr. Lutero só esta passagem bastaria. Inequivocadamente comprova a existência do purgatório. Ora, se não existisse o purgatório de que valeria o sacrifício?
Mas ainda há mais:
“Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor.” (Tob 12,12) Se o purgatório não existisse de que valeriam às orações?
E há uma citação sobre o Grande Dia, que se refere a esse estado:
 “Em toda a terra - oráculo do Senhor - dois terços dos habitantes serão exterminados e um terço subsistirá.  Mas farei passar este terço pelo fogo; purificá-lo-ei como se purifica a prata, prová-lo-ei como se prova o ouro. Então ele invocará o meu nome, eu o ouvirei, e direi: Este é o meu povo; e ele responderá: O Senhor é o meu Deus.” (Zac 13, 8-9)

Lutero: Espere um momento, permita-me. As duas primeiras passagens que o Dr. menciona nós não reconhecemos como inspiradas por Deus. Inspirados só são os 39 livros. Quanto à última... É... Pesquisarei... Mostres-me então passagens no NT que pregam sobre o purgatório e orações pelos mortos.

João Eck: Sr. Lutero devido sua interrupção refutarei primeiro sobre se o purgatório foi criado em 503 e já passo para essa sua última questão. O sr. dizer que a doutrina do purgatório foi criada em 503dc, só mostra desconhecimento de sua parte. Tenho em memória citações de tempos bem anteriores ao séc VI que mostram a existência do purgatório e podes confirmar nos livros.
Tertuliano (220): "A esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir-se com ele na ressureição; oferece sufrágio todos os dias aniversários de sua morte".
"Durante a morte e o sepultamento de um fiel, este fora beneficiado com a oração do sacerdote da Igreja".
São João Crisóstomo (349/407): "Levemos-lhe socorro e celebremos a sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados pelos sacrifícios de seu pai (Jó 1,5), porque duvidar ue as nossas oferendas em favor dos mortos lhes leva alguma consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer as nossas orações por eles." (Hom. 1Cor 41,15)
São Cipriano ( 249): “…uma coisa é penar muito tempo e purificar-se nas chamas do Purgatório e outra coisa é ter removido todos os pecados, pelo martírio”.[1] (Na luz Perpétua, 5ª. ed., J. B. Lehmann, Ed. Lar Católico, MG,1959).
Poder-lhe-ia ainda citar Clemente de Alexandria (202) e tantos outros, mas creio que já basta. Aqui fica provado que os cristãos desde o início criam no purgatório.
Agora passando para as passagens do NT sobre purgatório. Citar-lhe-ei várias e peço que não me interrompa.
“E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo nem no mundo vindouro” (Mt 12, 32) Desta passagem podemos concluir que o purgatório existe. Terás a explicação desta passagem de um Doutor que foi Papa que viveu em 540/604:
“...segundo o que afirma Aquele que é a Verdade, dizendo que se alguém tiver cometido uma blasfêmia contra o Espirito Santo, não lhe será perdoada nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,31). “Dessa afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro.” (dial. 4,39)
"Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo." (1 Cor 3,11-15) Esta última passagem dispensa explicações por se tão óbvia.
“a Timóteo filho caríssimo: graça, misericórdia, paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, nosso Senhor! Dou graças a Deus, a quem sirvo com pureza de consciência, tal como aprendi de meus pais, e me lembro de ti sem cessar nas minhas orações, de noite e de dia.” (II Timóteo 1, 2-3) Esta também.
"Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.” (Matheus 5, 25-26) Como sabemos nada impuro entrará no céu (Apocalipse 21,27) e o inferno é eterno (Matheus 25,41), deste modo, é fácil entender que essa prisão onde se paga até o último centavo e sais é o purgatório.
"É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes, quando Deus aguardava com paciência, enquanto se edificava a arca, na qual poucas pessoas, isto é, apenas oito se salvaram através da água”(1 Pedro 3, 19 -20). Desta passagem é fácil inferir que esses “rebeldes” tiveram que se purificar. É bom lembrá-lo que só os pecados veniais podem ser perdoados no purgatório, os pecados mortais só são pagos nele, o arrependimento deste último é na terra.
Achei interessante sua exclusão espontânea aos sete livros que foram aceitos pela cristandade desde o início e eram lidos por Cristo e pelos apóstolos. Preferes ficar com uma decisão farisaica ao lugar do que disse a Santa Igreja Católica.

Lutero: Não tenho muito a declarar sobre as passagens. As estudarei e no próximo encontro trataremos. O dr. me veio com várias passagens que supostamente provam a existência dessa segunda chance. Trago-vos passagens que mostram que o purgatório não pode existir, ouça:
1.    “O sangue de Jesus Cristo, nos purifica de todo o pecado.” (1 Jo 1,7)
2.    "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas." (2Co 5:17)
3.    “E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” (Jo 8,11)
4.    "Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito" (Romanos 8.1).

João Eck: Vamos por partes. O sr. já começou errando quando falou que o purgatório é uma segunda chance. Nada disso! As pessoas no purgatório já estão salvas e estão em estado de purificação.  Sobre as passagens:
1.    O sacrifício expiatório de Cristo teve força não só para os pecados passados, mas para também os do presente e futuro. Vejamos de que modo, com a palavra São Tomás de Aquino: “Ora, isso se dá pelo batismo, pela penitência e pelos demais sacramentos, que buscam seu poder na paixão de Cristo. Ora, a fé com o qual nos purificamos do pecado não é uma fé informe, que pode existir até com o pecado; mas é uma fé formada pelo amor; assim, a paixão de Cristo nos será aplicada, não apenas em nossa mente, mas também em nossos afetos. E também por esse modo, perdoam-se os pecados, pela força da paixão de Cristo.”
Outras passagens nos fazem ter a certeza da veracidade do que o santo diz:
 “Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração” (Tg 4.8).
E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.  (São Lucas 24,47)
"Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho." (São Marcos 1,15)
“De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis” (Romanos 8,13)
«Eu, agora, alegro-me nos meus sofrimentos por vós e completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo pelo Seu corpo, que é a Igreja ».  (Colossenses, 1,24)
Como vemos somos purificados pela força do sangue de Cristo, mas pagamos por esses pecados.
2.    A segunda passagem que você passa-me, fala da remissão do pecado original que foi pago por Cristo na cruz e temos a Graça no batismo. Vemos passagens semelhantes nas escrituras para o passado:
“Segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Fiel é esta palavra...” (Tt 3,5-8)
“Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados , e recebereis o Espírito Santo.” (Atos 2.38)
3.    Sobre a terceira, o sr. quer dar entender que Deus não é Justo, pois, segundo você não há punição para os pecados após o perdão. Ora, Davi foi perdoado por Deus, mas teve seu filho morto por causa de seu pecado (2 Samuel 12, 13-14, veja também: Deut.  34, 1-5 ; Num. 27, 12-15; Deut. 32, 51). Como dizia São Tomás de Aquino negar a pena temporal é negar a Justiça Divina. Jesus não a condenou naquele momento, mas isso não indica que não pagaria pelo que tinha feito.
4.    Sobre a última passagem tem uma explicação bem óbvia: Quem não peca não pode ser eternamente condenado.

Lutero: Não tenho argumentos para sua última exposição...

João Eck: Nem para a primeira.

Lutero: ... de qualquer forma lhe digo não há diferenças entre os pecados. Todos os pecados são de níveis iguais.

João Eck: O sr. está contrariando de modo veemente Cristo. Ele disse para Pilatos:  “aquele que me entregou a ti cometeu pecador maior” (Jo 19.11)
E Disse algo que já falei em outro momento: “E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo nem no mundo vindouro” (Mt 12, 32) Então existem pecados que levam a morte e outros não.
E ainda João diz:
“Se alguém vir que o seu irmão comete um pecado que não leva à morte, peça, e dar-lhe-á vida. Não me refiro aos que cometem um pecado que não leva à morte; é que existe um pecado que conduz à morte; por esse pecado não digo que se reze. Toda a iniquidade é pecado, mas há pecados que não conduzem à morte.” (1 Jo 5, 16-17)
No AT lemos: "O Justo peca sete vezes ao dia" (Prov 24, 16) Ora, se há pecados que não fazem o homem perder sua justiça, são os veniais. Se o justo então não tem oportunidade de pagar todos seus pecados em vida, pagará no purgatório. Perdão e purificação haverá aos veniais, aos pecados mortais só a purificação, pois, o arrependimento para o perdão deve ser feito ainda em vida.

Criação: Nelson Monteiro

Notas:
[1] (Na luz Perpétua, 5ª. ed., J. B. Lehmann, Ed. Lar Católico, MG,1959).

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