Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens, innixa super Dilectum suum? Quem é esta que sobe do deserto cheia de delícias e apoiada em seu Amado?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Batismo infantil é ilícito?

Caros leitores, neste post tratarei sobre um assunto bem divergente, não só entre Igreja Católica e algumas igrejas protestantes, mas também entre as próprias diversas vertentes protestantes, pois, divergem entre si, é o caso do batismo infantil que enquanto igrejas como Luterana, Presbiteriana, Calvinista, Anglicana etc. aceitam, outras o negam, como por exemplos a igreja Batista, igreja Assembléia de Deus etc.
Respondendo ao título, bastaria dizer: “Não, porque a Igreja Infalível (1 Tm 3,15; Lc 10, 1; Mt 28,20; Jo 14, 16-17; Ef 5,23–25) Fundada por Cristo (Mt 16,18) o disse.”         
Mas como sabemos que nossos irmãos protestantes ignoram as passagens citadas entre os parênteses, não nos custa tecer longos argumentos a favor do batismo infantil.
A grande dificuldade que há é que os protestantes partem do princípio que o batismo serve só para redimir pecados voluntários, seguindo essa lógica, logo as crianças (de pouca idade) não poderiam ser batizadas, pois, não teriam pecados, seriam puras. Partindo desse pressuposto errado só poderiam chegar a uma conclusão falsa.
Na verdade o batismo não só serve para redimir os pecados voluntários, mas para também nos redimir do Pecado Original, este dos nossos primeiros pais, porém transmitido para toda humanidade desde o ventre (Conf. Rm 5,12; Sl 50,7). Responde o Catecismo de São Pio X:  

“O pecado original transmite-se a todos os homens, porque tendo Deus conferido ao gênero humano, em Adão, a graça santificante e os outros dons preternaturais, com a condição de que ele não desobedecesse, e tendo este desobedecido tia sua qualidade de cabeça e pai do gênero humano, tornou a natureza humana rebelde a Deus. Por isso a natureza humana é transmitida a todos os descendentes de Adão num estado de rebeldia contra Deus, privada da graça divina e dos outros dons.”(63)
Com esse pecado os homens não poderiam salvar-se, se Deus não tivesse usado de sua misericórdia, enviando seu Filho como Redentor divino, para nos libertar da morte eterna. Desse modo, entramos na aliança do “Cordeiro que tira o pecado do mundo” quando somos batizados. Então, é nele [no batismo] que nos preparamos para entrarmos no Reino (Colossenses 1,12)

“Fomos sepultados com Cristo pelo Batismo em união com sua morte, a fim de que, assim como Cristo ressuscitou de entre os mortos pelo poder glorioso do seu Pai, assim também nós caminhemos agora numa vida nova” (Rom. VI-3-13).

“foi em Cristo que Deus nos escolheu ainda antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados diante d’Ele; predestinou-nos no seu amor, segundo o beneplácito da sua vontade, para sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo, em louvor da magnificência da sua graça, pela qual nos tornou agradáveis a seus olhos, em seu amado Filho” (Efes. 1, 4-6).

Já sabendo o porquê do batismo, fica fácil entender por que batizamos também as crianças. Ora, não devemos afastar elas da graça, visto que o próprio Cristo disse: “Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais...”[No texto Grego, as palavras brepe e prosepheron se referem a crianças de colo. ]  ( Lucas 18,16)
Lembrando que nessa última passagem foi trazido crianças para que Jesus as abençoasse, então, se fosse necessário ter uma idade avançada para entender suas palavras, o aceitar, para depois ser abençoado Jesus não corrigiria os discípulos. Que mãe esperaria seu nenê chorar após nascimento para lhe dar o peito? Será que devemos deixar de salvar um irmão que se acidentou, se o mesmo estiver inconsciente e por isso não tendo condições de fazer o pedido de ajuda? Será que os pais evangélicos não oram pelas suas crianças? Por que não esperam a “idade da razão” para aí depois pedir a Deus por elas? Pois, se elas ainda não aceitaram Jesus como Salvador, Deus não poderia agir por elas, seguindo vossa objeção.
Quando questionados a isso, eles dizem: “Deve-se antes ter consciência do que se faz, aceitando Jesus como Salvador para aí depois ser batizado.” Esse argumento serve só para adultos e não crianças. Adultos porque no batismo eles também têm a remissão de pecados próprios. Deus deu autoridade dos pais sobre os filhos, desse modo é lícito que os pais iniciem o caminho para a salvação de seus filhos, sendo que os mesmos depois devem os educar na verdadeira fé. ”Porque o marido do descrente é santificado pela mulher” ”E a mulher descrente é santificado pelo marido; doutra sorte os vossos filhos seriam imundos: Mas agora são Santos”, isto é são crentes juntos com os pais (1Cor 7,14 leia também Atos 16,31)
Jesus Cristo curava muitas crianças por pedido de seus pais, por que Jesus não negou curá-las? Por que não disse que só poderiam ser curados aqueles que antes o aceitasse como Salvador de sua vida?

“Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada.” (Mt 15,28)

“Vai, disse-lhe Jesus, o teu filho está passando bem! O homem acreditou na palavra de Jesus e partiu. Enquanto ia descendo, os criados vieram-lhe ao encontro e lhe disseram: Teu filho está passando bem”(Jo 4,50-51)

Quanto aos pecados próprios, sim, devemos ter consciência, arrependimento, para sermos perdoados, é o que ensina a Igreja Católica. É por isso que é só depois de ter chegado a idade da razão que podemos receber o Sacramento da Confissão e o da Eucaristia. Sendo assim, as crianças batizadas quando pequenas poderão ser também redimidas quanto pecados voluntários, não foram antes porque no batismo não os tinham.
Uma prova que o batismo não é só para recebermos o perdão de pecados voluntários é que discípulos de João Batista que já tinham sido batizados no batismo desse profeta, foram batizados depois no Batismo instituído por Cristo (Conf. Atos 19,3-5). O próprio João Batista afirma que o Batismo de Cristo não é igual o seu: ‘’Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo.” (Lucas 3,16)
Outro raciocínio que os protestantes utilizam é que Jesus foi batizado aos 30 anos. Vale lembrar que foi circuncidado quando pequeno. Mas o que tem a ver o batismo de Cristo com o nosso? Cristo foi/é Imaculado. Somos batizados para sermos redimidos, desse modo, o batismo de Cristo não foi igual ao nosso e nem necessita de imitação. (O motivo que levou Jesus a ser batizar eu tratarei em outro post, aguardem...)
Lemos em duas epístolas de São Paulo que o batismo é a nova circuncisão (Colossences 2,11; Efésios 2,11-22)  Sabemos que na circuncisão da Antiga Aliança nenês depois do 8º dia de nascimento (Lev 12, 3) já poderiam ser circuncidados, porque não poderiam os nenês da Nova Aliança serem batizados então?
Não há nas escrituras nada que diga explicitamente que o batismo de crianças é válido ou o contrário, no entanto, são várias passagens que vemos uma probabilidade muito grande de ter ocorrido o batismo infantil. Algumas delas:

“Foi batizada [Lídia] juntamente com a sua família e fez-nos este pedido: Se julgais que tenho fé no Senhor, entrai em minha casa e ficai comigo. E obrigou-nos a isso.” (Atos 16, 5)

“Aliás, batizei também a família de Estéfanas. Além destes, não me consta ter batizado ninguém mais.” (1 Co 1,16)

“Então, naquela mesma hora da noite, ele cuidou deles e lavou-lhes as chagas. Imediatamente foi batizado, ele e toda a sua família.” (Atos 16, 33)

Era difícil naquele tempo uma família não ter crianças entre os judeus, visto que era repugnada a esterilidade sendo benção quem tinha muitos filhos. Sendo assim, é bem provável que crianças de colo foram batizadas nos acontecimentos das passagens citadas.
Ainda em soma podemos citar Atos 2, 39 que diz: “Pois a promessa [de ser redimido e receber o ES, conf no vers. anterior] é para vós, para vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus.”
Jesus mesmo afirmou que “Quem não renascer pela água e pelo Espírito Santo, não entrará no reino dos céus.” (Jo. 3,5) Quem não dá exceção não bota limite de idade.
Se os protestantes pelo menos dissessem que não batizam crianças por não terem provas, além de indícios do NT, que só há passagens que deixam implícito isso, mas não explícito, assim não batizam para não se arriscarem em cair em erro, seria até entendível, visto que pregam Sola Scriptura, mas que não venham então dizer que estamos errados, pois é eles que estão na incerteza ou então partiremos para discussão sobre Sola Scriptura (Veja: http://www.altarcristao.com/2010/01/so-biblia.html). Não está o “a favor” nem “o contrário” explícito na Bíblia, desse modo, vocês só podem ficar na dúvida mesmo...

Agora vejamos o que diz os testemunhos dos primeiros séculos:


Ireneu 180dC. escreve: “Jesus veio salvar todos os que através dele nasceram de novo de Deus: os recém-nascidos, os meninos, os jovens e os velhos ” (Adv.Haer. livro 2, 22.4)

Orígenes (185-255) escreve: “A igreja recebeu dos apóstolos a tradição de um batismo também aos recém-nascidos. Os apóstolos, aos quais foi dado o segredo dos divinos sacramentos sabiam que havia em cada pessoa inclinações inatas do pecado (original), que deviam ser lavadas pela água e pelo Espírito” (Epist. Ad. Rom. Livro 5,9)

“Se as crianças são batizadas 'para a remissão dos pecados' cabem as perguntas: de que pecados se tratam? Quando eles pecaram? Como se pode aceitar tal testemunho para o batismo das crianças se não se admitir que 'ninguém é isento do pecado, mesmo quando a sua vida na terra não tenha durado mais que um só dia'? As manchas do nascimento são apagadas pelo mistério do batismo. Batizam-se as crianças porque 'se não nascer da água e do espírito, é impossível entrar no reino dos céus'” (In Luc. Hom. 14,1.5).

“Se gostais de ouvir o que outros santos disseram acerca do nascimento físico, escutai a Davi quando diz: 'Fui formado na maldade e minha mãe me concebeu no pecado'. Assim diz o texto. Demonstra que toda alma que nasce na carne carrega a mancha da iniquidade e do pecado. Esta é a razão daquela sentença que citamos mais acima: ninguém está limpo do pecado, nem sequer a criança que só tem um dia [de vida]. A tudo isto se pode acrescentar uma consideração sobre o motivo que a Igreja tem para o costume de batizar também as crianças: este sacramento da Igreja é para a remissão dos pecados. Certamente que, se não houvesse nas crianças nada que requeresse a remissão e o perdão, a graça do batismo seria desnecessária” (In Lev. Hom 8,3).

Hipólito de Roma (170?–235) escreve: “Ao cantar o galo, se começará a rezar sobre a água, seja a água que flui da fonte, seja a que flui do alto. Assim se fará, salvo em caso de necessidade. Portanto, se houver uma necessidade permanente e urgente, se empregará a água que se encontrar. Se desnudarão e se batizarão primeiro as crianças. Todas as que puderem falar por si mesmas, que falem; quanto às que não puderem, falem por elas os seus pais ou alguém da sua família. Se batizarão em seguida os homens e, finalmente, as mulheres [...] O bispo ao impor-lhes as mãos, pronunciará a invocação: 'Senhor Deus, que os fizeste dignos de obter a remissão dos pecados através do banho da regeneração, fazei-os dignos de receber o Espírito Santo e envia sobre eles a tua graça, para que te sirvam obedecendo a tua vontade. A Ti a glória, Pai, Filho e Espírito Santo, na Santa Igreja, agora e pelos séculos. Amém” (Tradição Apostólica 20,21)

Cipriano em 258 escreve: ,“Porém, no tocante às crianças as quais dizes que não devem ser batizadas no segundo ou terceiro dia após seu nascimento, e que a antiga lei da circuncisão deve ser considerada, de modo que pensas que quem acaba de nascer não deva ser batizado e santificado dentro dos oito [primeiros] dias, todos nós pensamos de maneira bem diferente em nosso Concílio. Neste caminho que pensavas seguir, ninguém concorda; ao contrário, julgamos que a misericórdia e a graça de Deus não deve ser negada a ninguém nascido do homem pois, como diz o Senhor no seu Evangelho, 'o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-la'. À medida que podemos, devemos procurar que, sendo possível, nenhuma alma seja perdida [...] Por outro lado, a fé nas Escrituras divinas nos declara que todos, sejam crianças ou adultos, têm a mesma igualdade nos divinos dons [...] razão pela qual cremos que ninguém deve ser impedido de obter a graça da lei, pela lei em que foi ordenado, e que a circuncisão espiritual não deva ser obstaculizada pela circuncisão carnal, mas que todos os homens devem ser absolutamente admitidos à graça de Cristo, já que também Pedro, nos Atos dos Apóstolos, fala e diz: 'O Senhor me disse que eu não deveria chamar a ninguém de ordinário ou imundo'. Entretanto, se nada poderia obstaculizar a obtenção da graça pelos homens ao mais atroz dos pecados, não se pode colocar obstáculos aos que são maiores. Porém, se se crê que até aos piores pecadores e aos que pecaram contra Deus lhes é concedida a remissão dos pecados, não sendo nenhum deles impedido do batismo e da graça, quanto mais não deveríamos obstaculizar um bebê que, sendo recém-nascido, não pecou ainda [pessoalmente], mas por ter nascido da carne de Adão, contraiu o contágio da morte antiga em seu nascimento [...] Logo, querido irmão, esta foi a nossa opinião no Concílio: que, por nós, ninguém deve ser impedido de receber o batismo e a graça de Deus, que é misericordioso, amável e carinhoso para com todos; e que, visto que é observado e mantido em relação a todos, parece-nos que seja ainda mais no caso dos lactantes [...]” (Carta 58, a Fido, sobre o Batismo das Crianças).

Hipólito em 215 escreve: "Onde não há escassez de água, a água corrente deve passar pela fonte batismal ou ser derramada por cima; mas se a água é escassa, seja em situação constante, seja em determinadas ocasiões, então se use qualquer água disponível. Dispa-se-lhes de suas roupas, batize-se primeiro as crianças, e se elas podem falar, deixe-as falar. Se não, que seus pais ou outros parentes falem por elas" (Tradição Apostólica 21,16).

                                
(Imagem - Igreja primitiva)
 











Na leitura dos escritos dos pais da Igreja chegamos a óbvias conclusões...
Com a palavra o Teólogo Protestante Dr. R.C Sproul: “A primeira menção ao batismo das crianças se vê por volta do meio do segundo século. O que é digno de nota sobre esta menção é que concorda que o Batismo das crianças era uma prática universal da Igreja. Se o Batismo das crianças não estivesse em prática no primeiro século da Igreja, como e por que começou como doutrina ortodoxa tão cedo e tão generalizada? Não somente foi uma rápida e universal disseminação, mas a literatura sobrevivente daquele tempo não demonstra nenhuma controvérsia a respeito desse costume”. (Verdades Essenciais da Fé Cristã)

 
Aguardem meu próximo post... Será sobre batismo por aspersão.

3 comentários:

Unknown disse...

Olá Nelson, primeiramente gostaria de parabéniza-lo por seu post muito bem argumentado. Creio que sempre haverá disavenças entre igrejas, não só no que diz respeito batismo, mas também outras coisas. Na minha humilde opinião, oque tenho aprendido de DEus a cada dia, é que devemos dar menos créditos a religião e olhar para Cruz, para nosso Salvador e para palavra de DEus. Sempre haverá divergencias, porém creio no princípio de Romanos 14;22-23. Tenho certeza que Deus jamais teria deixado dúvidas quanto a algo necessario a salvação. Abraços

Nelson Monteiro disse...

Olá Thiago, obrigado pelos elogios primeiramente.
Não tenho muito do que discordar... Sobre a "religião" é uma acepção que tu tens da palavra que só serve para quem não crê que Jesus Cristo é a cabeça da Igreja (Ef. 5,23), Fundador dela (Mt. 16,18) e guia (Mt 28, 20).
Eu também tenho certeza que Deus não deixou dúvida alguma. Por isso, além da bíblia cremos na tradição. Documentos dos primórdios do catolicismo não faltam para isso...

Unknown disse...

Por favor, se for de seu entendimento, corrija essa parte do texto, ou melhor amplie.
“Outro raciocínio que os protestantes utilizam é que Jesus foi batizado aos 30 anos. Vale lembrar que foi circuncidado quando pequeno. Mas o que tem a ver o batismo de Cristo com o nosso? Cristo foi/é Imaculado”.
O batismo de cristo não foi o batismo cristão, onde o mesmo só foi criando após sua morte e ressurreição, "Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".
Da mesma forma se aplica ao ladrão na cruz, São Dimas, ao qual protestantes aludem que não foi batizado quando adulto, ora também não foi antes do estabelecimento do sacramento?
A paz , irmão.

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