Fragmento 118
São Francisco de Sales
É coisa muito
certa que as Sagradas Escrituras contenham com muita claridade a doutrina
necessária para vossa salvação, e que bom método de interpretá-la é concordar
umas páginas com as outras e reduzir o todo à analogia da fé. Assim se tem
recomendado sempre. De todos os modos, não deixo de crer muito convencido e de
dizer constantemente que, apesar da admirável e amável claridade da Escritura
nas coisas necessárias, o espírito humano não acerta sempre com seu verdadeiro
sentido, e pode equivocar-se.
Com efeito,
erra muito frequentemente na compreensão dos parágrafos mais claros e mais
necessários para fundamentar a fé, como demonstram os erros luteranos e os
livros calvinistas que, sob a direção dos padres da pretendida reforma, sempre
vivem em irreconciliável contenda sobre a interpretação das palavras com que
foi instituída a Eucaristia. Gabam-se de haver estudado cuidadosamente e fielmente
o sentido dessas palavras pela relação que tem com outras passagens da
Escritura, submetido tudo ele à analogia da fé, mas seguem interpretando
diversamente textos de grande importância.
A Escritura é
clara em suas palavras, mas o espírito humano é obscuro e, como a coruja, não
pode ver a claridade. O procedimento indicado resulta excelente, mas o homem
não sabe aproveitar dele. O espírito de Deus nos tem dado a Escritura, e nos
revela seu verdadeiro sentido, mas só a sua Igreja, coluna e apoio da verdade;
Igreja cujo ministério o espírito divino guarda e mantém sua verdade, isto é, o
verdadeiro sentido de sua palavra; Igreja, enfim, que é a única que conta com
a assistência do Espírito da verdade para encontrar adequada e infalivelmente a
verdade na palavra de Deus. O que busca a verdade da palavra divina fora da
Igreja, que é sua custódia, nunca a encontrará; e o que quer possuí-la por meio
distinto ao de seu ministério, em vez desposar-se com a verdade, o fará com vaidade;
ao invés de possuir a claridade do Verbo sagrado, seguirá as ilusões do anjo
mentiroso, que se transfigura de anjo de luz.
(Extr.: Obras Selectas de San Francisco de Sales, II,
p. 752, Madrid, 1954)
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